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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Hoje terminei de ler Ficção brasileira contemporânea, de Karl Erik Schollhammer, da Coleção Contemporânea: filosofia, literatura e artes. Apesar de ser um bom livro, apresentando uma leitura atenta e ampla da prosa contemporânea, não me acrescentou muita coisa. Não quero parecer arrogante, longe disso, mas, como disse em post anterior, estou estudando literatura contemporânea desde 2007, daí a falta que senti de alguma novidade no livro do Karl Erik, tudo que ele apresenta parecia déjà vu. Sinto que, para singularizar minha pesquisa, preciso aprofundar minhas leituras filosóficas, pois serão elas que darão um quê diferencial ao meu trabalho. Falando nisso, hoje fiz a inscrição no doutorado e, não sei por quê, estou uma pilha. Acabei optando por espanhol mesmo, mas ainda não consegui falar com a Vera, uma professora indicada por uma amiga da Solange, minha ex-professora de inglês. Ano passado estava super confiante e me dei mal, espero que este ano as coisas se invertam...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Perfil

Encontrei minha orientadora hoje na UERJ. Papo rápido de corredor e, naturalmente, falamos sobre o doutorado. Tudo ia bem até que, de repente, ela sentencia: "Você não tem perfil de literatura contemporânea". Assim, direto, sem lubrificante. Ora, em 2007 fiz uma especialização com bastante ênfase em literatura contemporânea; em 2008 e 2009, durante o mestrado, só li e só escrevi sobre literatura contemporânea; em 2010, na entressafra, continuo às voltas, quase que exclusivamente, com literatura contemporânea para, em 2011, se tudo der certo, iniciar um doutorado para pensar a literatura contemporânea... e eu não tenho perfil de literatura contemporânea?! O que vem a ser isso? Qual é o meu perfil?
Acho que o meu perfil é o de um cara que não tem orkut, facebook, twitter ou qualquer outra ferramenta virtual para a construção de uma identidade. Você vai me dizer que é muita cara de pau a minha dizer isso justamente num blog intitulado Identidade de um eu. Eu até poderia dar o braço a torcer, mas não sem lembrar que este blog é recente e que eu relutei muito em dar as caras por aqui. E acrescento que resisti bravamente, mantendo um diário antes de sucumbir às pressões internéticas e me tornar um blogueiro - Christoph Türke já dizia que quem não tem e-mail, telefone celular e website está morto socialmente. Então vim aqui para renascer, por que não? E também para, como minha pesquisa de doutorado é sobre blogs, me ambientar.
A propósito, acho muito difícil falar sobre literatura contemporânea sem falar em blogs. Eles estão aí, são uma realidade, e merecem um estudo mais sistemático. De que forma eles oferecem aos autores um meio de construção identitária? Como é possível inventar-se via posts, conjugando essa ficção de si com outros discursos autobiográficos? Que sujeito quer se construir discursivamente no espaço virtual para encenar-se como sujeito real? Quanto fragmentário é esse sujeito que necessita de vários discursos e de vários leitores para ser?
Pensando nisso que me despedi da Ana, ainda encucado por não ter o perfil de literatura contemporânea, e me encontrei com meu amigo Leonardo. E foi quando ele me perguntou, à queima-roupa, qual a diferença entre pesquisar a vida alheia na literatura e xeretar a vida alheia no orkut, por exemplo, que percebi que pairava no ar alguma conspiração. Minha primeira reação foi a de dizer que são coisas completamente diferentes, mas o Léo não se convenceu facilmente. E me fez concordar que, no final das contas, o que está em jogo é o exibicionismo e o voyeurismo próprios de nosso tempo. Mas asseguro que é bem diferente pesquisar como o autor retorna na contemporaneidade do que simplesmente vasculhar a página de algum Sr. José num site de relacionamento. Quero crer que eu tenho alguns neurônios a mais para não me satisfazer com os perfis e citações orkuteiros, embora, para me convencer de que tenho sim o perfil da literatura contemporânea, tenha decidido me integrar ao twitter. Agora terei seguidores, procurem-me em breve.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

New chapter: bye-bye English

Depois de me angustiar, de ver nascerem inúmeros fios brancos na minha cabeça, de sofrer com o fantasma da desaprovação, depois de amaldiçoar a língua inglesa e toda a sua lógica ilógica, decidi-me finalmente por fazer a prova de espanhol. Não hablo espanhol fluentemente, aliás, não falo espanhol de jeito nenhum, mas, se mesmo assim, optei pelo idioma de Cervantes, vocês podem imaginar como não é a minha compreensão do inglês. I hate English e por isso mesmo não quero, não posso e não devo fazer outra prova de inglês, sob o risco de nova reprovação. Não sei de onde vem meu bloqueio, mas sei que ele veio e se instalou. Como estava um tanto cansativa essa ladainha da dificuldade em aprender inglês, urgia dar uma guinada no enredo. A novela da prova de língua instrumental ganha nova direção e novo suspense - será que em dois meses conseguirei me preparar adequadamente? Será que conseguirei alguma professora? Será que me arrependerei? A essas perguntas só terei respostas no dia 26 de novembro, data da prova. Até lá a novela continua...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Rapidinhas

Há mais ou menos três semanas terminei de ler Todos os nomes, de José Saramago. É um dos melhores romances que eu já li e há muito uma leitura não me causava tamanho impacto. Fiquei de escrever alguma coisa a respeito aqui, mas o tempo passou e perdi a ocasião, à espera de ouvir de outrem o que eu mesmo deveria dizer;
Discussão interessante na aula do Acízelo sobre o papel do especialista em literatura;
Conferência com Christoph Türke: não conhecia sua obra mas fiquei bastante interessado em ler A sociedade excitada, que, pelo que foi dito, será útil para a minha pesquisa. Também valeu por ter revisto algumas pessoas queridas, como meu amigo Júlio;
Conferência Autobiografia, antibiografia e memória, do ciclo Contar a vida alheia, na ABL. Hoje o conferencista foi o acadêmico Alberto da Costa e Silva, com uma fala muito boa. Para ele, a autobiografia difere das memórias porque a primeira baseia-se em documentos para falar de si mesmo como se fosse um outro ao passo que nas memórias o memorialista ambiciona reconstituir liricamente seu passado. Ele completou afirmando que autobiografia não é uma vida, mas a invenção do vivido, e que o romance é um tipo de antiautobiografia, uma vez que de alguma maneira é a vida do autor que está sendo contada - daí a afirmação de que se querermos saber a verdade autoral devemos ler sua ficção.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Cal(eu)doscópio

Este blog visa a registrar minhas atividades acadêmico-literárias, a mostrar apenas esse eu. Acontece que um outro eu veio empecilhar meu universo literário e, por conseguinte, o blog. Terça-feira não pude ir à aula e nem poderei ir amanhã novamente, sem falar de minhas demais atividades, acadêmicas ou não. Nada mais justo que eu abra, portanto, algumas poucas linhas para explicar o recesso (espero que breve).
Depois de 35 anos de excessos de todos os tipos, desde os gastronômicos, passando pelos etílicos, pelos narcóticos e pelos orgiásticos, chegou o momento de pagar a fatura. Ela tarda, mas sempre chega. A última cobrança me levou, durante o último mês, a uma série de complicações de saúde bastante dolorosas e desagradáveis. Meu fígado está comprometido e minha vesícula deixei ontem no hospital, depois de uma cirurgia que, honestamente, pensei que fosse ser mais tranquila. Pelo menos foi o que todas as pessoas conhecidas e amigas e irresponsáveis como eu me afirmaram a respeito. Vida normal no dia seguinte, não se preocupe, disseram-me unânimes. No meu caso, além de estar ridículo, com toda a barriga raspada, sinto dores horrorosas e não consigo ficar nem ereto nem deitado. Tirei licença de alguns dias para me recuperar, na esperança de segunda-feira retomar minha rotina.
Da minha rotina pretendo eliminar os excessos, afinal não tenho mais 25 aninhos. Agora sou um homem responsável (?!), pai de duas crianças e chefe de família. Não dá mais pra viver uma vida desregrada, sem hora pra nada, com o lema adolescente sexo, drogas e rock and roll. Pois é, encaretei, a idade chegou e, mesmo antes dos 40, já estou em crise. Com uma vesícula a menos. Será só mais um susto que, ao passar, me conduzirá para os desatinos de antes? Não sei, pausa para balanço.
Até segunda-feira, pelo menos, todos os eus irão descansar, a menos que, rebeldemente, como me costuma chamar a Elisa, eu mude de ideia.

sábado, 11 de setembro de 2010

E agora, José?

As inscrições para o doutorado já estão abertas. Projeto pronto, documentação quase toda ok, orientadora a mesma do mestrado. Tudo certo não fosse por uma dúvida angustiante - inglês ou espanhol como segunda língua instrumental? E agora, José? Fui reprovado ano passado em inglês e, apesar das minhas aulas particulares este ano, não me sinto seguro para fazer nova prova. Trauma? Bloqueio? O que acontece? Não sei. O que sei é que não sei inglês. Mas sei mais do que espanhol (!) Possível? Espanhol todo mundo sabe. Não deve haver tantos falsos cognatos assim de maneira a inviabilizar uma leitura. Não é possível que um falso amigo inverta radical e irremediavelmente o sentido do texto de modo a me declarar não apto também em espanhol. Preciso tomar um decisão, mas qual? Uma segunda reprovação em inglês me conduziria para o reino dos beócios. Nunca mais mostraria meu rosto em público novamente, não mais atenderia telefonemas, me exilaria de mim, em mim mesmo. Mas ainda há a remota possibilidade da aprovação, da volta por cima, do domínio triunfante, um ano depois, sobre a língua inglesa. Mas o espanhol me acena como uma possibilidade, mais segura e menos dolor. Um atalho tentador a tomar. Sim, espanhol, por que não? Ora, vou realmente me acovardar, vou desistir da luta, deixarei de domar a maldita língua bretã? Preciso de um divã, preciso que alguém decida por mim, necessito de algum ser vivente menos complicado e mais objetivo que eu que, pragmaticamente, me conduza pelos caminhos da razão, me mostre a realidade e me livre das armadilhas que eu mesmo crio para mim. E agora, José?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O circo*

Seria uma manhã como todas as outras. O sol quente nos asfalto, a bibicleta transportando caboclos na estradinha de barro, o capim seco esperando a vaca ter fome, o vento brincanco com os chapéus de palha... Mais um dia sossegado não fosse a estranha lona.
Uma única família. Chega desapercebida e instala-se num terreno qualquer que mereça sonho e alegria. Sim, alegria! Dois traillers, um caminhão e um carrinho transportam a aparelhagem. São meninos, velhos, mulheres, que, em meio aos latidos intrigados dos cachorros vadios, ajudam a erguer o castelo. Martelos, pregos, tábuas vão se agrupando em bilheteria, arquibancada, trapézio.
É noite. As melhores roupas do vilarejo desfilam para o magnânimo evento. Os homens trocam a enxada e a camisa aberta ao vento pela vestimenta dominical. As mulheres, vaidosas, se perfumam e se maravilham como Glórias Menezes, enquanto as crianças agradecem a oportunidade de usar um par de sapatos.
Respeitável público!!
Enfim é dado o tão esperado cumprimento. A adjetivação dada ao público ecoa até seus corações; já não são mais simples camponeses que se contentam apenas com uma garrafa de cachaça ou com as fantasias das novelas. São respeitáveis!
Vem a trapezista. Aquela mesma moça que estava na bilheteria com um sorriso humilde, conveniente a esta gente artista. Com desembaraço ela vai às nuvens naquele trapézio simples, pobre, tão rico... E é com sentimento de dever cumprido que recebe a ovação do público encantado. Bravo! Bravo! E como num passe de mágica vêm os palhaços, o vira-lata amestrado, a dançarina, a mulher que cospe fogo, o apresentador-palhaço-trapezista-dono-do-circo, e até uma cabrita equilibrista. Tudo tirado de sua cartola de fantasias. O público, ah! o público!, são semideuses a gozar as maravilhas do fantástico... Gritos, aplausos, assovios, lágrimas, brilho. El grand finale! Uma comédia da qual participam todos os saltimbancos. Bravo! Bravo!!
O espetáculo finda. Os semideuses voltam às suas casas não antes de brindarem à vida noite adentro.
Dormem. Sonham. Acordam. No dia seguinte, o sol quente no asfalto, as bicicletas transportando caboclos na estradinha de barro, o capim seco esperando a vaca ter fome, o vento brincando com os chapéus de palha.
* Escrito em 7 de abril de 1995 e publicado em 2004.